Autor: Victor Melo

MIGUEL E A JANELA DE LIVROS

É intemporal, o meu fascínio por Alfarrabistas. Tenho boas recordações de tardes inteiras em Londres, Barcelona ou Porto a explorar os seus corredores labirínticos, as suas prateleiras imensuráveis, os seus sótãos ou caves amontoadas com palavras antigas. Algumas dessas visitas inspiraram reportagens, que hoje testemunham casas que já não existem. Recentemente, descobri um em Coimbra. Descobri-o tarde demais. É mais uma casa que deixará de existir. Numa mísera tentativa de redenção, resolvi contar a sua história.

O MOSTEIRO

Era mais do que uma aventura em busca das ruínas de um velho e lendário mosteiro, perdido no coração de um bosque do Norte. Saboreei cada centímetro agreste do trilho, mas era mais do que isso. Era uma ode aos sonhos de juventude. São sempre maiores do que os imaginamos.

O VELHO E O FOGO

A missão era especial. Escrever uma reportagem sobre os 75 anos de um quartel de bombeiros.
Nem coloquei a hipótese de usar uma estrutura convencional, árida, cronológica. O meu oásis seria o de sempre: um ângulo diferente. Parti em busca dele e senti-me finalmente saciado quando descobri um antigo bombeiro com 96 anos, que praticamente acompanhou a vida do quartel. Reuni com ele vários dias e ouvi relatos fascinantes.
Não demorou muito até sentir que esse seria o caminho. Sentei-me na secretária e as palavras foram saindo, uma a uma. A noite prolongou-se até o sol entrar pela janela. Foi nesse momento que constatei que tinha contado a história através das vivências dele.

A ASSOMBRAÇÃO DA PORTA 18

O primeiro Halloween do Shortcutz Viseu foi assombroso. Decorria 2013 e os seus organizadores decidiram oferecer um espectáculo memorável à cidade. Uma maratona de oito curtas-metragens de cinema fantástico, projectadas num velho armazém abandonado na zona histórica. Entusiasmado e inspirado com a ideia, escrevi um pequeno texto em forma de teaser para servir de aperitivo ao evento. Foi no dia 18, na porta 18. Esta madrugada, recordo-o.

UMA CAMINHADA NA FLORESTA DAS ALMAS PERDIDAS

Um filme de terror português é um cenário raro no panorama cinematográfico nacional. Um sonho difícil de alcançar que uma equipa jovem decidiu perseguir. Na algibeira, um orçamento irrisório e uma vontade abastada. Foi filmado em Águeda, a minha terra natal, mas já se espalhou pelos quatro cantos do mundo, onde conquistou aplausos, vénias, prémios e o respeito da crítica internacional.
Estas são algumas histórias nos bastidores da sua produção.

AS FRONTEIRAS DA GUERRA (II – A Noite de Todos os Perigos)

As balas continuam a cruzar os céus em Trás-os-Montes. Missão a missão, as forças do spetsnaz avançam na direcção do seu destino. O único destino que aceitam conhecer. A noite começa a cair. Estes homens ainda não sabem, mas o destino vai-se apresentar na escuridão. O meu nome é Viktov Malu. E esta é a história que eu trouxe quando atravessei as fronteiras da guerra.

AS FRONTEIRAS DA GUERRA (I – Fúria ao Entardecer)

Chaves esteve em guerra. Durante 48 horas, jipes com metralhadoras, antiaéreas, camiões militares e mais de uma centena de “soldados” invadiram as montanhas de Trás-os-Montes. “Dark Revelation” é considerado o evento de airsoft mais realista do país. Tudo é meticulosamente organizado de forma a oferecer aos participantes uma experiência de combate real. Ao longo de uma saga que já contabiliza quatro eventos, foi criado um enredo cheio de detalhes e com nações e exércitos ficcionais. O nível de genuinidade é tão extremo que durante 48 horas as fronteiras entre a realidade e a simulação misturam-se, tornam-se ambivalentes. Quando essa linha indefinida é atravessada – e estes homens atravessam-na – a única diferença é que as “balas” são de plástico.
Acompanhei o evento como repórter de guerra e integrei um batalhão de forças especiais russas (Vityaz). Atravessei com eles as florestas, vivi com eles nas trincheiras, partilhei as suas sensações.
Uma dúvida subsistia. Como se cobre um evento onde se tenta recriar a realidade ao mais ínfimo detalhe? Talvez só haja uma forma de o fazer. Como se tudo fosse, efetivamente, real!
Por isso, a partir deste momento, o meu nome é Viktov Malu. E esta é a história que eu trouxe quando atravessei as fronteiras da guerra.

UMA JORNADA AO PASSADO

Não me lembro se a visitei antes, mas tenho a certeza que foi em 2007 que me apaixonei por ela. Foi nesse Verão, nessa sexta-feira, que decidi que ela não ia ser uma feira. Seria uma viagem. E eu jamais seria um visitante. Ia ser um viajante. E algures durante essa decisão, apaixonei-me. Assim, do dia para a noite. Do presente para o passado. Guardei para sempre o manuscrito onde registei essa primeira viagem. Não guardei as palavras só para mim. Partilhei-as à primeira luz de Domingo. Primeiro com o Norte. Depois com todo o país. Hoje partilho-as contigo.

A GUARDIÃ DE CAVALOS DE FERRO

Durante décadas, habituámo-nos a ver a guarda da passagem de nível a sair dos seus cubículos de tijolo e telha e a atravessar a estrada com uma corrente na mão ou a manejar a cancela que delimita a passagem. Eram elas que controlavam o tráfego de carros e peões durante a passagem dos comboios. Já a passagem do tempo é incontrolável e a Refer tem vindo a suprimir e reconverter as passagens de nível com meios automatizados. Junto à linha do Vouga, a única linha de via estreita ainda em funcionamento no país, encontrámos uma destas profissionais, que aceitou partilhar connosco o seu cubículo e o seu quotidiano. Testemunhámos os hábitos, motivações, métodos e receios de uma profissão em vias de extinção.